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Flow e SP



São Paulo =  do cliché "Terra da Garoa"

Terra prometida para uns e selva de concreto para outros. São Paulo é a verdadeira central do Brasil, não a do filme, mas a da vida real.


É a cidade dos sonhos, faz alguns juntarem todo dinheiro que tem e partir sem olhar para trás, em busca de uma vida nova. Separa alguns e junta outros, as vezes de sangue, as vezes de escolha. Escolher morar em São Paulo é como ir ao céu cortando caminho pelo inferno. Assim mesmo, pesada, e leve ao mesmo tempo.


Eu entretanto, não escolhi São Paulo, ela quem me escolheu. Me escolheu e me abraçou, me criou, me fez crescer, me mostrou as alegrias, perigos e tristezas da cidade grande em que nasci. Me deu minha família, meus amigos, as escolas que frequentei, as ruas que andei, lugares que procurei. São Paulo foi minha mãe até eu poder voar para longe, e voei, e foram tantos encontros e despedidas que vivi, tantos momentos com o estômago na boca de aflição, ou de sorrisos intermináveis, ou de dias iguais.


Quando você sai de São Paulo pode ir a qualquer lugar, Canadá, Bahia, Paris ou Ceará, não significa nada, pois São Paulo nunca sai de você. E ela vai estar sempre te esperando no mesmo lugar, sabendo que um dia você vai voltar.



Aprendi a aceitar os mortos que vivem aqui, a pedir comida a qualquer hora, a escolher ir em um museu diferente a cada dia da semana. A ir trabalhar todo dia com um livro na mão, porque o transito meus amigos, não é brincadeira não. Mas tempo é feito de vida, e eu aprendi a aproveitar a minha.


Frequentei todos os tipos de escolas, que mudavam de acordo com a economia do país e o efeito dela na vida dos meus pais. Conheci todo tipo de pessoas nessa cidade, uma vez conheci um menino que tinha o pai a cara do Paulo Coelho, e até tinha as mesmas ideias, Quando o conheci, não imaginava o tanto de histórias que teriamos para contar com o passar dos anos. Conheci também a alma gêmea do Bono Vox, isso mesmo, o vocalista da banda U2. Nunca os vi juntos, mas aprendi tudo sobre a banda Irlandesa com ela. Também não imaginava que em um futuro distante eu moraria na terra deles, a Irlanda.


Em SP também conheci o amor da minha vida, não lembro quantos anos eu tinha, mas eram tão poucos que eu mau sabia o que era amar. Estudávamos na mesma escola, e era a época em que "louco é pouco" para um adolescente vivendo nessa cidade cheia de possibilidades de fazer tudo errado. Também não imaginaria que essa história seria tão longa, tão pesada, tão cortante. Afiada.


Sampa me mostrou o reggae, o rock, o eletrônico, o alternativo. Foram tantos shows, tributos, raves, baladinhas, barzinhos, rolezinhos. E vamos pra Augusta? Rua mais louca não tem. Tem a Vila também, e tem mil lugares espalhados, prontos para serem desbravados.


Conheci outros lados da cidade, templos Budistas que te levam ao Nepal em um segundo, e Hare Krishnas que te levam a Índia sem sair do lugar. Tem a Umbanda também que está em todos os lugares e ao mesmo tempo tem a Praça da Sé que parece terra de ninguém.



Nessa babilônia eu sofri, chorei de grandes alegrias e também de grandes tristezas Lembro do corpo do Ayrton Senna chegando ao Brasil, cruzando as ruas da cidade, chegando no cemitério e enterrando toda a esperança da nação juntos. Vi também o amor ir embora, sem olhar para trás, e sem aviso voltar para bagunçar o que nunca consegui arrumar.


Vi o Brasil ser Tetra Campeão, que emoção, completamente oposta de quando enterrei meu avô.


Quando se vive tanto em um lugar, nunca mais é possível se desconectar. Mesmo que tudo passe, que você viaje, que volte e nada esteja no mesmo lugar, uma hora se encaixa. Dizer que gosto dessa cidade é uma afirmação muito rasa. Talvez eu arrisque dizer que eu sou essa cidade, sou tudo que dela vive em mim e sou feliz por poder viver nela.


Existe amor em SP sim, mesmo que seja só o meu por você.

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